A Brevidade da Existência e o Sopro que Nos Move
Séculos mais tarde, outro pensador de peso na filosofia existencialista, Friedrich Nietzsche, ecoaria esse sentimento à sua maneira, afirmando que o desafio humano é transformar cada instante em algo digno de ser eternamente repetido — seu famoso conceito de eterno retorno e a coragem de dizer sim à vida - e a tudo que ela constitui. Dizer sim ao que se quis e ao que não quis. Dizer sim ao que feriu e ao que fortaleceu. Não importa a situação, dizer sempre sim ao destino (Amor fati) ”Em outras palavras, viver de modo, que cada gesto tenha intensidade, autenticidade e coragem”.
Na verdade, somos feitos de instantes: alguns marcados pela alegria e plenitude, outros pela dor e vazio. Todos, porém, seremos tragados pelo tempo, pois somos igualmente finitos.
Na poesia contemporânea, esse tema ganha nuances ainda mais profundas, quando o autor se permite desnudar a própria alma. É o caso do poema que compartilho nesta coluna — de minha autoria — e que nasce do encontro entre a melancolia e a lucidez, entre o realismo da morte e a urgência de viver plenamente.
da vida trago um desgosto, que a certeza maltrata,
é a brevidade da vida, que arde como ferida
e a morte por certo me arrasta.
Ciente da efêmera existência, procuro dar autenticidade,
vivendo a vida em potência, em toda sua intensidade,
humano por excelência, exercendo a benevolência
e excluindo a maldade.
A vida parece um sopro, não sabemos a durabilidade;
pra uns, se alonga um pouco, pra outros, há brevidade;
devemos durante esse sopro, seja velho ou seja moço,
procurar felicidade!
A vida é uma peça em cena, ora se chora, ora se aplaude;
nela, os atores contracenam: dramas, tragédias ou piedade.
Às vezes somos tragados da cena,
sem nenhuma explicação amena
e nos tornamos saudade."
Ao assumir que “às vezes somos tragados da cena”, a poesia reconhece nossa vulnerabilidade diante da finitude, mas também nossa força: a capacidade de transformar o breve em significativo, o efêmero em memória, o sopro em legado.
O convite, portanto, é simples e profundo: que cada leitor reflita sobre o que está fazendo com seu próprio sopro de vida. Se a existência é curta, que ao menos seja intensa. Se o tempo é incerto, que ao menos sejamos verdadeiros. Se o final é inevitável, que ao menos deixemos saudade — e não arrependimentos.
Na pressa do cotidiano, esquecemos que cada minuto é uma chance irrepetível. Essa reflexão é um lembrete poético e necessário de que a vida não é sobre quantidade, mas sobre presença. Sobre estar, sentir, abraçar, perdoar e agradecer. Sobre viver — e não apenas existir.


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