Por Dentro do Código: Como Funcionam os Algoritmos das Casas de Apostas Online?
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Os jogos como o Jogo do Tigrinho operam na modalidade de "quota fixa", onde o apostador sabe de antemão o retorno potencial de sua aposta. No caso do Tigrinho, o objetivo é simples: alinhar três símbolos idênticos em uma grade, reminiscentes das clássicas máquinas caça-níqueis. Por trás dessa mecânica, há um gerador de números aleatórios (RNG, do inglês Random Number Generator), que determina os resultados de cada rodada. Esses algoritmos são projetados para garantir aleatoriedade, mas com um detalhe: o Return to Player (RTP), uma porcentagem que indica quanto do valor apostado retorna aos jogadores a longo prazo. No Tigrinho, o RTP geralmente fica entre 85% e 95%, o que significa que a casa sempre mantém uma vantagem matemática. A CPI das Bets revelou, no entanto, que muitos parlamentares desconhecem conceitos como RTP, evidenciando a dificuldade de regular um setor tão técnico.
Além da aleatoriedade, os algoritmos por trás de jogos como o Tigrinho são projetados para maximizar o engajamento. Eles utilizam técnicas de gamificação, como animações vibrantes, sons de recompensa e multiplicadores que criam uma sensação de "quase ganhar". Essa hiperestimulação do sistema de recompensa cerebral é intencional, conforme apontado em um relatório global que destacou como jogos de cassino online, como o Tigrinho, têm taxas de transtorno de jogo significativamente altas. A CPI tem investigado como essas mecânicas exploram vulnerabilidades psicológicas, especialmente em populações socioeconomicamente desfavorecidas, que veem nesses jogos uma promessa ilusória de ganhos rápidos.
A personalização é outro pilar tecnológico dessas plataformas. Algoritmos de recomendação, similares aos de redes sociais, analisam o comportamento do jogador, frequência de apostas, valores gastos, horários de pico, para oferecer bônus personalizados ou incentivos como "apostas grátis". Essas plataformas muitas vezes exigem que o jogador acumule um certo valor antes de sacar ganhos, uma estratégia de retenção que mantém os usuários jogando. A CPI das Bets, sob a relatoria da senadora Soraya Thronicke, está examinando essas práticas, especialmente após depoimentos de influenciadores como Virgínia Fonseca e Rico Melquiades, que negaram lucrar com as perdas dos apostadores, apesar de evidências sugerirem o contrário em contratos com plataformas como Blaze e Esportes da Sorte.
A cibersegurança é também é uma preocupação, já que essas plataformas movimentam bilhões de reais, segundo estimativas. Algoritmos de detecção de fraudes monitoram atividades suspeitas, como apostas em sequência ou acessos de locais inconsistentes, usando aprendizado de máquina para identificar padrões de lavagem de dinheiro. Essas descobertas reforçam a necessidade de regulamentação rigorosa, com a Lei 14.790/2023 exigindo que plataformas adotem políticas de prevenção à lavagem de dinheiro e sejam sediadas no Brasil, com domínios .bet.br.
O impacto social dos jogos como o Tigrinho é alarmante. A CPI ouviu relatos como o de André Rolim, um ex-viciado que perdeu casa e carro devido ao vício em apostas, incluindo cassinos online. Ele destacou como a acessibilidade dos jogos online, sem as barreiras de deslocamento dos cassinos físicos, intensifica o problema. A CPI está propondo medidas como bloqueios automáticos para apostadores compulsivos e campanhas educativas, em parceria com o Ministério da Saúde, para mitigar esses danos.
A regulamentação, que entra em vigor em janeiro de 2025, busca trazer transparência. A portaria do Ministério da Fazenda exige que jogos como o Tigrinho exibam tabelas de pagamento claras e informem multiplicadores antes da aposta, proibindo promessas enganosas de ganhos futuros. No entanto, a CPI revelou que muitas plataformas, incluindo as do Tigrinho, operavam em uma "zona cinzenta" até 2024, explorando brechas legais. A proibição de cassinos online em estabelecimentos físicos e a exigência de certificação para RNGs visam proteger os jogadores, mas a fiscalização enfrenta desafios devido à complexidade técnica e à falta de preparo de alguns parlamentares, como apontado em sessões da CPI.
Olhando para o futuro, a integração de tecnologias como blockchain pode aumentar a transparência, permitindo auditorias públicas dos algoritmos. Por outro lado, a CPI das Bets, com depoimentos de figuras como Rico Melquiades, que demonstrou o Tigrinho em tempo real, expôs a influência de celebridades na popularização desses jogos. Como especialista, vejo um setor que combina inovação com riscos sociais significativos. A regulamentação é um passo, mas a educação financeira e o uso responsável da tecnologia serão importantes para evitar que esses jogos continuem causando estragos na vida dos brasileiros.
Boa Leitura!
Oswaldo Souza - Especialista em IA e Defesa Cibernética.
Profissional com mais de 10 anos de experiência em Tecnologia da Informação, especialista em Defesa Cibernética, Inteligência Artificial e Gestão. Colunista, Professor e Pesquisador científico.
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