Castelo Rá Tim Bum

Os Bastidores do Castelo Rá Tim Bum
Me chamo Carlos Alberto Gardin, 56 anos, Figurinista,
estudei no Ballet Stagium nos anos 70 e foi através da dança que tive minha
formação artística. Nos anos 80, já bailarino trabalhei com atores e no teatro
como coreógrafo, cenógrafo, figurinista, diretor de arte, comecei a ganhar
prêmios como figurinista, em 1988 fui fazer um curso de figurinos com Campelo
Neto, um famoso figurinista já falecido, ele me dispensou do curso pois achou
que eu estava pronto para assumir uma indicação dele, trabalhar na teve Cultura
como figurinista do Rá-tim-bum, fui para a entrevista e assim comecei a
trabalhar na televisão, depois deste projeto vieram, Glub-glub, Mundo da lua,
X-Tudo, Enigma, projeto Ipê, e foi como funcionário que conheci o Cao
Hamburguer em dois projetos: Perigo perigo! e Lucas e Juquinha, projeto este
que ganhou o Óscar da televisão. Deixei de trabalhar na teve cultura em 1992
para trabalhar com publicidade ao lado de Fernando Meirelles
Como surgiu o convite para participar do Castelo Rá Tim Bum?
Em 1993 o Cao Hamburguer me chamou para uma reunião na teve
Cultura, me apresentou o projeto e me convidou para implantar os Figurinos dos
personagens do Castelo, aceitei de imediato por ser uma oportunidade única, um
projeto cultural, educativo e de criação onde eu poderia dar asas a minha
imaginação. Voltei para minha casa e comecei minhas pesquisas, me diverti com
isto durante uma semana até nosso segundo encontro quando fui assinar o meu
contrato.
Quais foram suas principais fontes de pesquisa para
personificar cada um dos personagens tão peculiares e encantadores do Castelo?
A sinopse de cada personagem era muito abrangente, pois os
moradores do Castelo já tinham vivido uma longa história, as crianças
visitantes viviam uma história mais recente, de décadas e os visitantes e
quadros futuristas e surrealistas, assim comecei a misturar minhas pesquisas
entre presente, passado e futuro. Livros de história, de moda a partir da idade
média, revistas de moda fashionista e filmes de ficção científica.
Comecei por determinar uma cartela de cores para cada grupo
de personagens, cores mais densas e profundas para os moradores, cores vivas e
vibrantes para as crianças e cores cítricas para o Etevaldo, monocromático rosa
para Penélope, xadrezes alaranjados para o Abobrinha, cores corporativas para o
Bongô e mistura de animal print para a Caipora. Seguindo o mesmo raciocínio das
pesquisas misturando história, moda e ficção, misturei os tecidos em recortes,
tudo patchwork uma colcha de retalhos e de informações.
A grana era pouca e tinha que ser muito bem usada, pensei em
figurinos únicos, como personagens de histórias em quadrinhos, começamos a
gravar a série pelos quadros até o cenário principal da sala do Castelo ficar
pronta, gravamos os quadros da caixinha de música, com pouco investimento e
muita criatividade, a dança é minha linguagem, o pentagrama.
Guardei muito dinheiro para realizar a Morgana, o figurino
mais rico, inspirado em trajes medievais e penteado que aponta o céu imitando
os chapéus de fadas chamados de Henim, Doutor Vítor sai de casa para trabalhar, apesar de sua excentricidade
usa um traje de executivo, só que não, pois é patchwork, cabelo de Einstein,
maleta de médico e óculos arrojados.
Pedro é inspirado nos skatistas com a cara do John do Peter
Pan,Biba é inspirada no look de minha prima nos anos 60 com laço
na cabeça,Zequinha usa salopete e bonezinho que toda criança tem com
botinha ortopédica.
Etevaldo é minha paixão, fiz um workshop com meu afilhado
que na época tinha 6 anos e muitas ideias são dele, Caipora é inspirada na Tina
Turner pois eu a vi com uma saia de cabelos, o Abobrinha me inspirou ele sempre
tentar se disfarçar e nunca conseguir pois sempre calçava um exótico sapato e
calça xadrez cor de abóbora, Penélope foi inspirada na Penélope charmosa da
corrida maluca, o que toda menina gosta cor de rosa, super feminina com um toque
de bichinho de pelúcia. Bongô entregador de pizza, comi muita pizza, pedi de
diferentes lugares e tirei fotos dos entregadores, motoboys de jaleco em cor
primária, corporativa.
Tíbio e Perônio filmes ficção científica, sala de cirurgia,
Lana e Lara me inspirei nas luminárias de cristal, as passarinhas me inspirou
as backing vocals dos anos 50/ 60 com peruca de penas e o músico convidado o
que inspirou foi o surrealismo.
Dentre os personagens do Castelo, qual foi mais prazeroso na
hora de criar o figurino?
O Nino, apesar do prazer foi muito conflitante com o diretor
da série pois a princípio ele queria que fosse um menino, mas o Cássio Scapin
se deu muito bem nos testes de elenco, compus uma mistura de trajes infantis de
muitas épocas em uma mesma roupa, listras e bolas em cores medievais. Desenhei
muitas opções e voltamos para a primeiro desenho, meio a contragosto do diretor
mas minha equipe de trabalho me ajudou a convencê-lo e assim foi.
Qual a principal dificuldade encontrada por figurinista no
momento da criação?
Primeiro é ter a oportunidade de criar, de ser livre, parece
que nos obrigam a copiar do que já é sucesso, pois como o investimento é alto
as pessoas preferem investir no que já faz ou já fez sucesso, depois desta fase
do lay out, encontrar o tecido certo, com o caimento certo, que possa ser
lavado, que não manche, não desbote, não amasse demais, não faça barulho no
microfone, a cor certa que recorte no cenário eletrônico chamado de chroma key,
depois a confecção a modelagem pois vestimos atores e não modelos e manequins,
depois de tudo isto o visual geral, perucas, maquiagens acessórios, tudo é um
tiro no escuro, tudo é feito em separado para depois unir no ator que precisa
aceitar se submeter a trabalheira que dá para virar o personagem.
5) Com certeza
o Dr. Abobrinha causava grande expectativa nos fãs a cada episódio, pois sempre
surpreendia com seus disfarces. Como foi criar o figurino deste personagem que
se recriam a cada aparição?
Na sinopse dos episódios tínhamos os objetivos pedagógicos,
5 visitantes, um por dia da semana em 90 episódios, assim sendo o Abobrinha tem
18/ 20 aparições, algumas delas vestido como ele mesmo, fiz testes de
caracterização e fotografei tudo, foi um workshop de disfarces onde criamos
muita loucura e fomos elaborando em cima disto os disfarces completos, sempre
com o mesmo sapato e calça xadrez para ser reconhecido.
7) Sabemos que o mercado é fugaz e tudo precisa ser feito da
mesma forma.
Com tantos personagens e cada um deles com detalhes tão
marcantes, que nos é fácil lembrar e distingui-los até hoje. Conte nos um pouco
como foi esse período de concepção e produção destas peças.
Foi rápido, pois eu cheguei chegando, eu queria arrasar,
gastei minha energia na primeira semana de trabalho e estabeleci o caminho que
eu iria tomar, aceitaram assim e assim foi, só aprimorei as ideias, pesquisa de
tecidos e compras de material, encomendas e
as técnicas de como fazer com o passar dos dias.
8) Uma pergunta que não pode ser esquecida. Afinal o Castelo
Rá Tim Bum é cultuado por uma legião de fãs, fez e faz parte da vida de muitas
crianças e adultos e o figurino não envelhece. Você retomará o projeto
conquistando ainda mais jovens fãs?
Estão retomando por mim, depois da exposição dos 20 anos
muito tem sido licenciado pela teve Cultura sem ter meus créditos, são direitos
morais, o artista não se desvencilhar de sua obra, se a o Abapuru é da Tarsila,
não importa para quem foi vendida a obra, assim como a Monalisa é do Louvre mas
não deixa de ser autoria do Michelangelo. Nesta semana estou tomando atitudes
radicais com meu advogado, resgatando minha obra, pois entrei no projeto
ganhando pouco, sabendo que seria cultural e educativo, agora com este sucesso
todos querem ganhar dinheiro com isto, eu também e mais que eles inclusive,
pois o objetivo deles é estritamente comercial, cópia creditada a outra pessoa
é crime de contrafação e não é justo tirarem minha alma sem minha expressa
autorização e sem punição.
9) De um modo geral, você começa a pensar no figurino logo
que o roteiro está pronto ou você precisa entender e refletir sobre as
personagens até chegar a cada peça final?
Eu penso no personagem com uma sinopse de sua personalidade,
um resumo de suas situações e possibilidades, me armo para o que der e vier,
situações de chuva, inverno, verão, trabalho, lazer, enfim, o roteiro só fica
pronto na semana das gravações e já estou meio preparado para estas diversas
situações.
10) Quais são as limitações criativas que você encontra no
seu dia-a-dia como figurinista?
Correr atrás de trabalho, lidar com diversos clientes,
gostos variados, muitas opiniões alheias, pouco dinheiro, pouco tempo para
realizar e saber se valorizar, a gente só é especial para a gente mesmo, sou
mais um, se alguém cobrar menos, pode ser que seja muito melhor que eu.
A concorrência é desleal.
Boa Leitura!
Boa Leitura!
Autor: Guilherme Ghirardelli
Jornalista, formado pela UNAERP
apaixonado pela cultura
Celular (16) 99634-2409
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