Quem não lê não escreve
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Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever
O problema apontado pela pesquisa, que inclui outras áreas
do conhecimento, como a matemática, poderia ser simplesmente atribuído, numa
análise mais simplista e superficial, à má qualidade do ensino público. O
estudo, entretanto, também abrange os alunos das escolas particulares, nas
quais, em tese, pratica-se ensino de melhor nível. Fica claro que a questão é
mais abrangente e grave, merecendo a atenção de toda a sociedade e das
autoridades neste final de século. Seria ingenuidade, para não falar em omissão
histórica, imaginar que possamos conquistar o desenvolvimento sem preparar
adequadamente os jovens para um mundo em que a informação, em todas as áreas do
conhecimento humano, será um diferencial decisivo para delimitar o grau de
independência e competitividade dos países, empresas, instituições e,
sobretudo, do indivíduo. Não basta tecnologia de ponta, redução de custos,
programas de qualidade e produtividade.
Para participar da globalização com
vantagens competitivas, o Brasil precisa de valores humanos, cujo talento,
cultura, criatividade e preparo são requisitos fundamentais ao desenvolvimento.
Observa-se no País, contudo, uma perigosa desvalorização da
cultura básica, da erudição e do conhecimento. A informação científica e
humanística é “pelletizada” em apostilas, na “indústria” do vestibular ou na
realidade virtual da multimídia eletrônica. A grande maioria dos cursos de
ensino médio e os “cursinhos” preparatórios aos vestibulares preparam o aluno
apenas para realizar a prova, mas não desenvolvem nele o raciocínio, o senso
crítico e o conhecimento de base.
Obras literárias importantes são resumidas de forma pobre e
descaracterizar, em poucos parágrafos. As apostilas são confeccionadas sem
estudos prévios, ao contrário do que ocorre com os livros, que demandam anos de
pesquisa por profissionais, especialistas, intelectuais, escritores e
cientistas, contendo ilustrações detalhadas e informações completas. Já sem cultura
básica, nossos jovens também não são estimulados à leitura dos jornais e
revistas, que também se constituem em fonte imprescindível de informação e
formação.
Os estudantes sabem manipular com habilidade os
microcomputadores, em casa, e, de forma crescente, também nas escolas, públicas
ou privadas. “Navegam” com fluidez na Internet, mas são incapazes de
interpretar um texto de Machado de Assis; são verdadeiros ases das artes
marciais dos jogos eletrônicos virtuais, mas não conseguem redigir um texto com
princípio, meio e fim, estilo, forma e linguagem; “conversam” com colegas de
outros continentes, via modem, mas não atentam contra o idioma, com seu pobre
vocabulário. Nossos jovens têm acesso a todos os canais da era da informação,
mas não têm informação. Por isso, no ano decisivo de disputar uma vaga na
universidade, recorrem a cursos especializados em vestibulares, que treinam,
mas não ensinam.
As escolas brasileiras não possuem bibliotecas. As raras
existentes são incompletas e, o que é pior frequentadas. Em casa, a leitura de
livros, igualmente, não é estimulada. Nada contra a informática, a multimídia e
a realidade virtual. É inadmissível, porém, a ausência de formação intelectual
e a alienação diante da realidade tangível. Para reverter esse quadro – uma
responsabilidade inalienável das autoridades, educadores, professores e pais -
não–basta oferecer aos alunos os imprescindíveis livros didáticos.
É preciso
oferecer-lhes incentivos e meios de leres os principais autores nacionais e estrangeiros,
da leitura de ficção e não-ficção, jornais, revistas e obras científicas
humanísticas. Essa é a forma de construirmos uma sociedade inteligente, culta e
capaz de conduzir o Brasil a um destino melhor. Como nenhum constrangimento,
afirmou: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros”. Sem
livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – quem não lê não escreve inclusive,
a sua própria História!
Artigo publicado no Jornal Gazeta Mercantil em 17/dez/1996
Boa Leitura!
P.S. Será que esse cenário mudou alguma coisa no futuro, que é hoje o nosso atual presente, ou ainda estamos discutindo essa vulnerabilidade cultural e educacional na inteligencia humana, até hoje ....
Noticiários televisivos afirmam que a maioria pessoas que usam a internet com muita frequência, ou para trabalhar e estudar, podem se dizer que são pessoas abrangentes e não específicas, melhor dizendo são superficiais e não profundos nos assuntos...
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